Das Apresentações

Texto integrante do projeto ‘Vademecum (Ou o insuportável compilado de regulações e disposições gerais para sobreviver como artista visual)’ (2021)

Lucas Pretti
15 min readNov 1, 2021

Francele Cocco & Lucas Pretti

On Introductions
Part of the work ‘Vademecum (Or on the unbearable compilation of rules and regulations to survive as a visual artist)’ (2021)

[English version below]

Esta obra é fruto de cansaço e irritação. Burocracia, mcdonaldização da cultura, juridiquês. Formatos standard de convocatórias, artistas-urbanitas prefabricados, precarização globalizada, competitividade neoliberal. Arte para bancos e para cubos de ar hospitalar. Arte para futuros lobbies de advocacia, para Estados, simples programação para as novas fábricas — de cultura.

O Vademecum é, por isso, nosso fim e nossa estética. Resgatamos esse tipo de publicação amplamente usada no campo editorial para compilados sobre direito, ciências biológicas, psiquiatria e farmacologia pois são justo as legislações, os manuais, os guias, o tudo-que-se-deve-saber para profissionais que buscam atuar em determinada área o que nos interessa sujeitar, ao mesmo tempo que sublinhar a velocidade de sua expiração — parte intrínseca de sua natureza. Tal como as leis da ciência e do estado de direito, em pouquíssimo tempo cedem à máquina permanente da necessidade de atualização.

Algo similar acontece nas artes, mas de forma oculta. Operamos em um campo “especial” para o qual, em teoria, vademecums não serviriam. Distintos interesses dentro da sociedade do espetáculo sustentam o clichê em torno da figura do artista-criador cujo trabalho contém sua própria gratificação. Mantém-se no contemporâneo a ideia romântica de que seres providos de liberdades distintivas, sem amarras, alimentados por inspiração e contemplação, orbitam vidas fantásticas em busca da materialização de objetos especiais detentores de aura, que por sua vez circulam em determinados territórios de rompimento ou suspensão das prosaicas regras sociais. Logo, essa figura nunca seguiria leis.

Não é o que se vê na prática artística, porém. Ao menos não ao nosso redor. Nos parecem seres folclóricos artistas fora do mercado do norte que podem se dedicar exclusivamente ao processo de criação (não sabemos o que seria isso). Talvez adquiram a forma de um alebrije narcísico, uma teiniaguá princesa da criatividade ou um bahamut borgiano desconstruído? (Realmente não sabemos o que seria isso).

Para uma vida viável como artista, há um entorno laboral de total exploração e discrepância de forças. O princípio que nos trouxe a este Vademecum foi a observação e vivência dessas horas, quase sempre não disponíveis, em ler disposições gerais de convocatórias em diversas línguas, em tentar decifrar esse mercado que se serve da semântica vernacular tanto quanto as ciências médicas. Ordenar documentos, reestruturar conceitos, realinhar o projeto, escrever cartas de intenção, validar-se a partir de conexões importantes mediante as medonhas cartas de recomendação, construir um perfil público interessante, alimentar redes sociais alienantes para que funcionem como vitrines de sua produção, montar e atualizar portfólio para então depois clicar em Apply Now.

Pontos importantes dessa economia neoliberal de fronteiras fechadas recheadas de capital simbólico que valem a pena nomear: as inúmeras taxas de inscrição do oceano de possibilidades infinitas do mercado, a comprovação dos papeles en día e dos prazos mínimos de residência, os envios logísticos por conta do proponente, etc, somados à elaboração de currículo e statement com o rococó das palavras certas e da moda válidas nesse pretenso cosmopolitismo intelectual.

Para além dos três ou quatro escolhidos pelo mercado como seus cânones e premiados por suas práticas, sobra toda uma massa de artistas-trabalhadorxs com HDs lotados dentro de apartamentos e ateliês minúsculos compartilhados, ou em espaços provisórios de trabalho que duram o quanto duram as residências. Esses locais seguem apinhados com centenas de imagens-caixeiras-viajantes circulando por ondas eletromagnéticas e por sites baratos onde se hospedam páginas de inscrição padronizadas à procura da oportunidade game-changing.

“Producirse a sí mismo se está volviendo la ocupación dominante de una sociedad en la que la producción se ha vuelto sin objeto: como un carpintero al que se le hubiera quitado su taller y quien se pusiera, por desesperación, a lijarse a sí mismo.”

Essa imagem poderosa desenhada pelo Comitê Invisível se somou durante nosso confinamento à rememoração dos tempos em que a discussão sobre o porquê produzir e o como circular se dava na rua e em mesas de bar. Uma frase de uma amiga, dita por sinal com uma naturalidade desesperante, voltou a nos rodear enquanto víamos o aumento crônico do tempo de pantalla e o uso de social media escoando uma produtividade confinada em pixels, junto das nossas próprias ruminações de como seria possível a sobrevivência financeira já que o futuro estava suspenso — mas o aluguel não: “O único jeito é mandar 50 convocatórias no ano e se contentar em ganhar uma. Ser artista é viver uma vida de rechaços.”

Não querer lixar-se a si mesmo no Instagram e não aceitar comemorar um prêmio de consolação anual que te permita produzir dentro de condições mínimas nos fez produzir este Vademecum. A obra aposta no amontoado de oportunidades sem dar nenhum peixe (pois a data de vencimento já está expirada) nem tampouco ensinar a pescar; no máximo mira em peixarias abstratas que nesse momento histórico social chegaram até nós e foram usadas como num estudo de campo representativo. Olhar para as instituições de consagração e sua linguagem pretensamente democrática, e devolvê-las à sua natureza real de agentes de mercado, para relembrar o óbvio: que a esfera totalizante da circulação de mercadorias do mundo contemporâneo é força motriz de todos os sistemas de arte e cultura, não só daqueles espaços “tradicionais das galerias, feiras e leilões”.

“Aqueles que detêm os modos de produção produzem não somente um objeto para o sujeito, mas um sujeito para o objeto. Produzem dessa forma o objeto do consumo, o modo do consumo e o impulso do consumo.”

Não há fora, desde Karl Marx já o sabemos. A questão é que atualmente a lógica mercadológica em marcha desde a modernidade se impõe à perversidade da velocidade tecno-capitalista. Resumimos aqui: 24/7 plus milquinhentas convocatórias. Respondemos esgotados com 12 capítulos: Das Apresentações, Das Residências, Das Exposições, Dos Prêmios, Dos Programas de Estudos, Das Publicações, Dos Festivais, Das Investigações, Das Mostras Online, Das Aquisições de Obras, Das Ajudas Emergenciais e Das Validações. Propositalmente, este livro-objeto não contém nenhuma imagem, fotografia ou ilustração. Logotipos (a iconografia mais importante dessas centenas de PDFs y URLs) foram suprimidos por motivos de desprezo a esse comércio institucional e seu senso estético publicitário. As cores criadas em bancos de geração de paletas, que acompanham alegremente cada convocatória, foram também ignoradas. Nas mais de 1 mil páginas deste volume, optamos pela pobreza gráfica para ressaltar o tédio dos leitorxs-artistas acostumadxs a tantas open calls. A seleção do conteúdo foi arbitrária, mas certamente alguma justiça foi feita nessa tentativa de compilação e de estudo de campo que já nasce fracassada; os “resultados” de todos esses prêmios, residências, curadorias, salões e festivais também dizem ser justos.

Amigxs toparam o desafio e passaram a nos enviar os editais que chegavam de seus países. Montamos um ranking e geramos dados. Estabelecemos um sistema de pontos para definir a ordem em que o conteúdo seria disposto — um ponto para cada comparecência dos termos “investigação”, “diversidade”, “convivência”, “apoio”, “cena cultural”, “ciclo de exibição”, “tutoria”, “pesquisa”, “contemporâneo”, “radical”, “inovador”, “bienal”, “inédito” e “ajuda emergencial”. No total, juntamos 463 convocatórias em 17 línguas, de 60 países e 236 cidades — desde as óbvias e sobrevalorizadas Nova York, Berlim, Barcelona, Paris, Londres, São Francisco, Buenos Aires e São Paulo, até lugares remotos como Sant Pere de Vilamajor, Itu, Milford Haven, Sausalito, Avinyó ou Anápolis. Afinal, onde há instituições de cultura há propostas precárias e extrativistas sob a promessa de oferecer um lugar ao sol e um pouco de sombra. Ratificamos Remedios Zafra:

“Pocos textos esconden tanta esperanza como aquellos que abren posibilidades de cambio de vida.”

Assim montamos nosso júri diminuto, composto por nosotrxs mismxs, artistas latino-americanxs que passaram juntxs confinadxs a crise sanitária global — daí nossa opção de recortar o objeto de estudo para as “oportunidades” do ano 2020. A exemplo das próprias convocatórias, estabelecemos critérios subjetivos, lançados em uma planilha internacional de pontuação. Uma lista enorme, uma pasta gigante foi montada por meses, bem como uma coleção de screenshots dos botões que acompanham as convocatórias (que agora formam o vídeo da instalação). Fizemos nesse período um exercício deliberado de perder tempo acumulando-as e não tentando ganhá-las.

“Todas as antinomias da ideologia dominada na esfera da cultura derivam do fato de que, ao dissimular o arbitrário que constitui seu princípio e quando chega a impor através de suas sanções, o reconhecimento da legitimidade de suas sanções, a lei cultural tende a excluir efetivamente a possibilidade real de uma contestação da lei que consiga escapar à tutela da lei contestada.”

Ou, melhor dizendo, não há maneira de excluir a exclusão. Cientes, desde Pierre Bourdieu, de que as leis estão sempre objetivamente em vigor, criamos um espaço-capítulo final para abraçar ironicamente a contradição entre desnudar e prestar reconhecimento à “autoridade”. O último capítulo é um hiato entre a produção e a circulação desta obra.

“Tu transgrídeme pero no mucho. Tú me compras pero no tanto.”

Aceitamos portanto a provocação de Iván de la Nuez, e então deixamos essa instância reservada aos carimbos das instituições onde a obra poderá talvez um dia constar.

“Una galería, un espacio artístico, un cubo blanco (…) se ha convertido en un invernadero para la producción contemporánea. De imágenes, jergas, estilos de vida y valores. De valor de exposición, de valor de especulación y de valor de culto. De entretenimiento más seriedad. O de aura menos distancia. Una tienda insignia de las Industrias Culturales, donde están empleados entusiastas trabajadores y trabajadoras en prácticas sin remuneración.”

Tentamos também materializar essa síntese de Hito Steyerl como forma de exercício de sobrevivência. Mas, sem muita opção, terminamos este trabalho com vontade de gastar a vida em outra profissão menos delirante, outro labor que ao menos não disfarce suas regulações, que não especule todo o tempo com seus valores indecifráveis.

Politicamente, essa multidão de artistas-trabalhadorxs têm poucas opções além do preferiria não. Que, ironicamente, é uma via direta ao desastre financeiro e à amargura do isolamento. Aqui buscamos ao menos canalizar a indignação. Os critérios ao selecionar essas convocatórias são apenas superficialmente abertos neste volume, com transparência idêntica aos processos aos quais somos submetidos, ou seja, quase nenhuma. Têm também caráter irrevogável, como as escolhas dos experientes corpos de jurados das instituições.

Sim, é uma vingança melancólica e diletante. Defesa travestida de contra-ataque. Um grito de cinco quilos contra uma vida redigida por burocratas, preenchida por artistas-burocratas, julgada por curadores-executivos-burocratas.

[English version]

This work is made of tiredness and irritation. Bureaucracy, mcdonaldization of culture, legalese. Standardly formatted calls, prefabricated urban-artists, globalized precariousness, neoliberal competitiveness. Art for banks and for hospital-like cubes. Art for future law lobbies, for States, simple programming slots for new factories — of culture.

The Vademecum is, therefore, our end and our aesthetic. We are taking back such a type of publication widely used in the editorial field for law, biological sciences, psychiatry and pharmacology compilations because we are interested in subjecting such norms, manuals, guides, the everything-you-must-know for professionals who seek to act in a certain area. Fast-expiring is an intrinsic part of its nature. In a very short time they give in to the permanent updating machine.

Something similar happens in the arts, but in a hidden way. We operate in a “special” field for which, in theory, vademecums would not serve. Diverse interests within the society of the spectacle support the cliché figure of the artist-creator whose work contains its own gratification. That romantic idea remains in contemporary society. Such beings would be provided with distinctive freedoms, without strings attached, being fueled by inspiration and contemplation, and orbiting fantastic lives. They would seek to materialize objects with a special aura, which in turn would circulate in certain territories of rupture suspending the prosaic social rules. Therefore, this figure would never follow laws.

That is not what happens in real artistic practice, however. At least not around us. It seems folkloric to imagine artists outside the northern markets who can dedicate themselves exclusively to their creation processes (we don’t know what that would be). Perhaps they take the form of a narcissistic alebrije, a teiniagua princess of creativity, or a deconstructed borgian bahamut? (We don’t really know what that would be).

There is a working environment of total exploitation and discrepancy blocking a viable life as an artist. The principle that brought us to this Vademecum was to observe and experience such hours — almost always unavailable — in reading general provisions of open calls in different languages, in trying to decipher a market that uses vernacular semantics as much as the medical sciences. To order documents, to restructure concepts, to realign the project, to write letters of intent, to validate oneself with important connections through awful letters of recommendation, to build an interesting public profile, to nurture alienating social networks showcasing one’s production and social capital, to build a portfolio and then to click on Apply Now.

More important points of such neoliberal economy with closed borders full of symbolic capital: the countless enrollment fees, the proof of being properly documented or of properly residing for the minimum required period of time, the logistical shipments covered by the candidate, etc. Also, to elaborate a curriculum and a statement using the right words and valid fashions for this alleged intellectual cosmopolitanism.

Beyond those three or four awarded for their practices and chosen by the market as its canons, there remains a whole mass of worker-artists with full hard drives packed into tiny shared apartments and studios, or in temporary work spaces that last as long as the residency period. These sites are also jammed with hundreds of traveling-images circling through electromagnetic waves and cheap websites that host standardized application pages, and looking for the game-changing opportunity.

“To produce oneself is becoming the dominant occupation of a society in which production has become objectless: like a carpenter whose workshop had been taken from him and who, out of desperation, began to sand himself.”

During our confinement, that powerful image designed by the Invisible Committee was summoned up to the recollection of the times when the discussion about why to produce and how to circulate took place in the street and at bar tables. A phrase from a friend, said with desperate naturalness, came back to surround us as we saw the chronic increase in screen time and the use of social media leaking one’s productivity limited to pixels, along with our own ruminations of how it would be possible to financially survive since the future was suspended — but the rent was not: “The only way is to apply for 50 calls a year and be content to win one. To be an artist is to live a life of rejection.”

Refusing to sand oneself up on Instagram and not accepting to celebrate an annual consolation prize that allows one to produce under minimum conditions made us produce this Vademecum. It builds on the heap of opportunities withou yielding any fish (as the expiration date has lapsed), neither teaching how to fish; at most, it targets abstract fishmongers that at this historical social moment have come down to us and have been used as a representative field study. We are aiming at the recognition institutions and their supposedly democratic language, and returning them to their real nature as market agents, to recall an obvious statement: that the totalizing sphere of the circulation of goods in the contemporary world is the driving force of all art systems and culture, not only from those “traditional galleries, fairs and auctions”.

“Those who own the means of production produce not only an object for the subject, but a subject for the object. In that way they produce the object of consumption, the mode of consumption and the impulse of consumption.”

There is no outside, since Karl Marx we have known it. The current market logic, in motion since modernity, is imposing itself on the perversity of techno-capitalist speed. Here’s a summary: 24/7 plus five-hundred-thousand open calls. Our exhausted answer takes 12 chapters: On Introductions, On Residencies, On Exhibitions, On Prizes, On Formation, On Publications, On Festivals, On Research, On Online Shows, On Art Acquisition, On Emergency Grants, and On Validation. This book purposely does not contain any images, pictures or illustrations. Logos (the most important iconography of these hundreds of PDFs and URLs) were suppressed for reasons of contempt for such institutional commerce and its advertising aesthetic sense. We also ignored the colors created in palette generation systems, happily spread in every call. In the more than a thousand pages of this volume, we opted for graphic poverty to highlight the boredom of reader-artists accustomed to so many open calls. The content selection was arbitrary, but certainly some justice was made in such failed attempts of compilation and field study; the “results” of all those prizes, residencies, curatorships, salons and festivals are also said to be fair.

Friends accepted the challenge and started sending us calls arrived from their countries. We set up a ranking and generated data. We established a point system to define the order in which the content would be arranged — one point for each appearance of the terms “research”, “diversity”, “coexistence”, “support”, “cultural scene”, “exhibition cycle”, “tutoring”, “research”, “contemporary”, “radical”, “innovative”, “biennial”, “inedited” and “emergency aid”. In total, we have gathered 463 calls in 17 languages, from 60 countries and 236 cities — from the obvious and overrated New York, Berlin, Barcelona, ​​Paris, London, San Francisco, Buenos Aires and São Paulo, to remote places like Sant Pere de Vilamajor, Itu, Milford Haven, Sausalito, Avinyó or Anapolis. After all, where there are cultural institutions, there are precarious and extractive proposals under the promise of offering a place in the sun and a little shade. We are ratifying Remedios Zafra:

“Few texts hide as much hope as those that open possibilities for a life change.”

So we set up our small jury, composed of nosotrxs mismxs, Latin American artists who have gone through the global health crisis together — hence our option to restrict the object of study to the “opportunities” of the year 2020. Like the calls themselves, we established subjective criteria, inserted into a sheet with an international score system. A huge list, a giant folder has been assembled for months, as well as a collection of screenshots of the buttons published within the calls (which now make up the video of the installation). During that period, we made a deliberate exercise of wasting time accumulating them and not trying to win them.

“All the antinomies of the dominated ideology in the cultural sphere derive from the fact that, by disguising the arbitrary that constitutes its principle when it comes to imposing through its sanctions (the recognition of the legitimacy of its sanctions), the cultural law tends to effectively exclude the real possibility of challenging the law that manages to escape the tutelage of the same contested law.”

Or rather, there is no way to exclude the exclusion. Acknowledging, since Pierre Bourdieu, that laws are always objectively in force, we created a final chapter to ironically embrace the contradiction between unveiling and bowing to “authorities”. The last chapter is a gap between the production and circulation of this work.

“You transgress me but not too much. You buy me but not so much.”

We therefore accepted Ivan de la Nuez’s provocation, and so we left a reserved area to be stamped by the institutions where this work may perhaps one day be featured at.

“A gallery, an artistic space, a white cube (…) has become a greenhouse for contemporary production. Of images, jargons, lifestyles and values. Of exhibition value, of speculation value and of cult value. Of entertainment plus severity. Or of aura minus distance. A flagship store of the Cultural Industries, where enthusiastic workers and unpaid interns are employed.”

We also tried to materialize the above synthesis by Hito Steyerl as a form of survival exercise. Having no other choice, however, we finished this work expecting to spend our lives in some other less delusional profession, some other job that at least would not disguise its regulations, that would not speculate everything and all the time under its undeciphered values.

Politically, that multitude of worker-artists has few options other than saying I’d rather not to. Which, ironically, is a direct route to financial disaster and the bitterness of isolation. Here we are seeking at least to channel our indignation. The criteria for selecting these calls are only superficially open in this volume, with identical transparency as the processes to which we are submitted, that is, almost none. They are also irrevocable, such as the choices made by the institutions’ experienced judges.

Yes, it is a melancholy and dilettante revenge. A defense disguised as a counterattack. A ten-pound cry against a life written by bureaucrats, filled by bureaucrat-artists, judged by bureaucrat-executive curators.

Referências/References

BORDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. Perspectivas: São Paulo, 2015.

COMITE INVISIBLE. La revolución que viene. Barcelona: Melusina, 2009.

DE LA NUEZ, Ivan. Teoría de la retaguardia: Cómo sobrevivir al arte contemporáneo (y a casi todo lo demás). Bilbao: Consonni, 2019.

DE PASCUAL, Andrea; LANAU, David. El arte es una forma de hacer (no una cosa que se hace). Madrid: Los libros de la catarata, 2018.

DURÁN, José Maria. La crítica de la economía política del arte. CENDEAC: Murcia, 2015.

FLUSSER, Vilém. O Mundo codificado: Por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Ubu Editora, 2017.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política: livro I: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2017.

MARX, Karl. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857–1858: esboços da crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2011.

STEYERL, Hito. Los condenados de la pantalla. Buenos Aires: Caja Negra, 2018.

ZAFRA, Remedios. El entusiasmo: Precariedad y trabajo creativo en la era digital. Editorial Anagrama: Barcelona, 2017.

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Lucas Pretti
Lucas Pretti

Written by Lucas Pretti

Brazilian journalist, artist and researcher working in the intersections of digital culture, activism and contemporary arts. http://pretti-et.al